Cananéia recebeu a Exposição itinerante de “Instrumentos musicais do fandango caiçara”, realizada pelo Programa de Promoção do Artesanato de Tradição Cultural – Promoart e Sala do Artista Popular/SAP, do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/CNFCP. A exposição reúne 25 instrumentos musicais – rabecas, violas, adufos, caixas de folia, tamancos e machetes – encomendados diretamente com os artesãos do município de Iguape e Cananéia (SP), Paranaguá, Morretes e Guaraqueçaba (PR). Além dos instrumentos musicais, foram produzidos exclusivamente para o evento seis painéis expositivos e um catálogo com 44 páginas coloridas, contendo texto etnográfico e cerca de 80 fotos, que retratam os artesãos e os diferentes processos de construção de instrumentos. Um sensacional trabalho de pesquisa e produção que conta com a dedicação de várias pessoas e parceiros para ser realizado.
O Fandango é uma manifestação cultural popular, associada ao modo de vida das populações caiçaras residentes no litoral sul de São Paulo e norte do Paraná, em que dança e música são dissociáveis de um contexto cultural mais amplo. Sua prática sempre esteve vinculada à organização de mutirões – nos roçados, nas colheitas, nas varações de canoa, puxadas de rede ou na construção de benfeitorias – após os quais o organizador oferecia como pagamento aos ajudantes voluntários, um fandango, espécie de baile com comida farta. Além dos mutirões, o fandango era a principal diversão e momento de socialização dessas comunidades, estando presente em diversas festas religiosas, batizados, casamentos, especialmente, no Carnaval, quando se comemorava os quatro dias ao som dos instrumentos de fandango: as violas, as rabecas, os adufos e os tamancos.
Atualmente é cada vez mais rara a realização de mutirões, embora ainda sejam organizados em algumas pequenas localidades isoladas. Com o avanço da especulação imobiliária e a transformação de grandes áreas da região em unidades de conservação ambiental de proteção integral, inúmeras comunidades tradicionais foram obrigadas a migrar para as periferias urbanas de seus municípios ou de municípios vizinhos, desarticulando importantes núcleos organizadores de fandango.
Apesar das proibições ao corte dessas madeiras e à obtenção de matérias-primas essenciais à fabricação dos instrumentos mais comuns, é considerável a presença de grandes mestres artesãos, que não somente guardam saberes sobre os ciclos da natureza e técnicas ancestrais de construção, mas, criam, reinventam e adaptam formatos de instrumentos, soluções construtivas e temáticas decorativas, mantendo viva uma tradição cultural de longa data. Diante das limitações impostas por uma nova realidade, os fandangueiros encontram outras formas de vivenciar o fandango, através da organização de clubes de baile, festas comunitárias, formação de grupos artísticos ou recreações por grupos mirins.